Sou babaca por reclamar do jantar?

Para contexto, eu namoro há 4 anos. Sou uma namorada bastante compreensiva e gosto muito de fazê-lo feliz com pequenas ações. Sempre que ele vem cá a casa, cozinho uma comida que ele goste, faço uma sobremesa especial, incentivo-o e ajudo-o a descobrir hobbies novos.

Quando viajei durante 21 dias, como o fuso horário era diferente e eu não conseguia falar com ele por mensagem, escrevi-lhe uma cartinha para cada dia em que ia estar fora, para que ele se sentisse acolhido, etc.

Hoje foi o nosso aniversário de 4 anos, e, eu não poderia deixar passar uma data tão especial. Ontem, ele veio dormir a minha casa e eu pensei em tudo: fiz um bolo sem ele saber, comprei uma vela com o número 4 (bué lamechas, eu sei), escrevi-lhe uma carta e comprei um presentinho. Nada demais — um livro com ideias de coisas para ele fazer, pois ele recentemente disse-me que se sente sempre preso à rotina e desmotivado, e eu queria dar-lhe algo que o ajudasse a sentir-se melhor consigo mesmo.

À meia-noite, “cantei-nos” os parabéns, dei-lhe a carta e a prendinha. Ele deu-me uma carta, mas com apenas três frases. Sem exagero — era um papel com três frases. Eu, claro, agradeci, porque sei que o que conta é a intenção. Mas não vou mentir: para uma data tão importante para nós, esperava pelo menos uma carta mais expressiva… se é que me faço entender.

Ele percebeu que fiquei um pouco desconfortável e disse logo: “Amor, não te preocupes, amanhã vais lá a casa e eu vou fazer-te uma grande surpresa.”

Dito e feito: hoje passei o dia toda contente, porque sabia que ia jantar a casa do meu namorado. E, sendo o nosso dia, sabia que íamos passar um bom bocado juntos. Mais perto da hora, ele mandou-me uma mensagem a dizer: “Vem muito bonita, amor.” Eu, claro, criei logo uma grande expectativa.

Disse-lhe que, se quisesse, podia passar no supermercado para comprar algo para o jantar, ao que ele respondeu que não era preciso. (De ressaltar que eu sabia que íamos comer em casa dele, mas para mim não importa se é dentro ou fora de casa — o que importa é se o momento é especial para ambos.)

Quando cheguei a casa dele, fui para a sala, e até velas na mesa ele pôs. Fiquei logo toda contente, claro — até ele trazer à mesa o jantar. Ele traz-me então um prato com arroz e um ovo estrelado…

Eu, claro (e juro por tudo que não foi com ironia nem maldade), ri-me, porque achei que ele estava a brincar, e que mais cedo ou mais tarde ia trazer a carne que tinha deixado escondida na cozinha — que era só uma piada. Pouco demorou para perceber que afinal não era brincadeira. O meu jantar de 4 anos de namoro era mesmo arroz com ovo estrelado.

Não me levem a mal: nós não passamos dificuldades. Vivemos bem financeiramente. Eu até me ofereci para comprar algo, se fosse preciso.

O problema não foi ser arroz com ovo — eu até gosto. O problema foi perceber que, num dia tão especial, ele não planeou uma receita especial para nós. Não se preocupou em fazer algo mais elaborado ou algo que eu adorasse, para me fazer sentir especial e amada neste dia.

Num dia normal, até entenderia. Mas no nosso aniversário, eu criei mesmo uma expectativa. Ainda mais porque nunca lhe dei a comer nada assim: faço sempre algo que sei que ele adora. Quando sei que ele vem jantar a minha casa, vou logo comprar — nem que seja a carne mais barata — só para garantir que ele come bem.

Quando percebi que era a sério, e que em momento nenhum me senti especial naquele jantar, soltei uma lágrima. Fiquei triste. Senti-me quase desprezada — embora talvez não tenha sido essa a intenção dele.

Ele, ao ver, disse: “Pois, choras, vês problema em tudo. Fiz o jantar para ti e reclamas.” Mas eu, em momento nenhum, falei mal com ele. Não reclamei de maus modos. Agradeci, disse que a mesa estava bonita… Mas também disse que esperava que ele tivesse, pelo menos, programado algo, que estivesse entusiasmado com a ideia, e que não tivesse simplesmente feito “o que tinha em casa”.

Eu não sou uma namorada exigente. Não esperava um anel, nem um ramo de flores, nem que ele me levasse ao restaurante mais caro. Esperava sentir-me especial. Esperava que ele pesquisasse a receita da minha comida favorita e se esforçasse em fazê-la com prazer.

Não sei o que pensar. Vim embora para minha casa. Sinto-me mal pelo que aconteceu, mas também tenho medo de ter parecido ingrata — o que não era, de todo, a minha intenção.

Ele mandou-me uma mensagem a dizer que o que eu fiz foi uma falta de respeito. Mas eu nunca falei mal com ele. Até agradeci. Apenas disse que achava que merecia mais num dia tão especial como este.

Sou babaca?