Meu não-lugar favorito está cada vez pior.

Eu vou muito a um Shopping da minha região, para estudar. Já narrei muitas crônicas de eventos notáveis ali, mas, ao mesmo tempo, jamais escrevi nada sobre o Shopping, em si.

E isso é porque não tem nada para dizer, mesmo forçando no lirismo. Ele é exatamente igual todos os Shoppings que você entrou ou ouviu falar na sua vida, salvo por um ornamento ou outro. Se você optasse por passar seus dias dentro de Shoppings, pouco importaria se estivesse em Belo Horizonte, Maceió, Manaus ou Campinas. Tudo é racionalizado para a venda e, assim, deságua exatamente no mesmo ambiente - porque a eficiência é um ponto homogêneo, afinal. A luz é sempre clara para não te dar percepção de tempo, as rotas inevitavelmente otimizadas para você passar por lojas com produtos que se complementam, a arquitetura constantemente tímida para não desviar seus olhos dos produtos.

Nunca me incomodou tanto, apesar de tudo, porque era só um ambiente para eu estudar em segurança. Porém a servidão ao produto chegou longe demais. Fui encher minha garrafinha e não achei o bebedor que ficava perto do banheiro. Nem o do lado da Leitura. Nem nenhum! O segurança me falou que a nova direção retirou todos os bebedouros do shopping, porque ninguém estava comprando água!

Incomodado, fui em busca do meu sofázinho favorito, aquele com poltronas macias e a lateral tão bojuda e grossa ao ponto de dar para apoiar o notebook. Não estava mais ali. Como substituto, um com borda anêmica, que não sustenta sequer meu braço. Porra, o que aconteceu? É que tinha gente que entrava no shopping só para sentar ou ficava muito tempo sem circular.

Precisa comprar café, agora, para ficar no Starbucks. Não pode cochilar nos sofás, também. Nem sentar e ler na livraria sem adquirir o livro. Tiraram as tomadas de perto das cadeiras e da praça de alimentação.

Não consigo mais estudar sem comprar a água, o café, o livro ou um power bank. O conforto diminui o lucro dos caras. O ideal é ser hostil a qualquer aspecto humano - a sede, o ócio, o estudo - que o desvie da compra.

Transformar você em algo tão não notável quanto o próprio shopping.